Autobiografia (reinventada) de João Pé-Leve

Em 1908, numa bela manhã de Sol, nasci na Vila Nogueira de Azeitão. Comecei cedo a trabalhar, eu e os meus pais éramos pessoas humildes e não tínhamos muitas possibilidades financeiras.

No dia em que eu fiz 35 anos, os meus amigos prepararam-me um jantar surpresa. Fui ao restaurante da Tia Bé com o meu primo e quando chegamos lá, estavam todos os meus amigos, mas uma rapariga africana chamou a minha atenção. Eu estava apaixonado, tão apaixonado que dois meses depois a Luena teve de regressar a Moçambique e eu fiz as malas e parti nessa aventura com ela.

Durante anos trabalhei como segurança no Museu Nacional de Arte em Maputo e sempre que fazia a ronda, ficava horas fascinado com as pinturas ali expostas. E foi assim que cresceu o meu amor pela pintura. Ganhei coragem e comecei a pintar os meus trabalhos, relembrava neles os tempos que vivi em Coina e em Moçambique.

Nunca quis expor os meus trabalhos, não sei, talvez tivesse receio que não fossem bons e que não gostassem, mas os meus amigos insistiram tanto que acabei por participar na exposição coletiva no XIV Salão Nacional de Pintura Naif no Casino do Estoril. Tornei-me um pintor de arte naif e as minhas obras foram expostas em várias galerias por todo o mundo, desde Barreiro, Setúbal, Lisboa, Amesterdão, Eslováquia…

Voltei para Portugal, para a minha terra, Coina, pois os meus queridos vizinhos quiseram fazer-me uma homenagem e colocaram o meu nome na rua onde eu cresci, Rua João Pé Leve.

Leonor Nascimento, 6.ºC